A decisão de avançar para uma operação em casos de hiperplasia benigna da próstata (HBP) é complexa e envolve várias considerações clínicas e pessoais. A HBP é uma situação muito comum em homens a partir dos 50 anos e pode causar sintomas urinários que variam de leves a graves. Embora muitos casos possam ser geridos com medicamentos e mudanças no estilo de vida, existem situações em que a cirurgia se torna necessária. Este texto aborda quando deve ser considerada a cirurgia, as indicações específicas para a intervenção e o momento apropriado para tomar essa decisão.

Indicações para a Cirurgia

1. Complicações Associadas à HBP

• Retenção Urinária Aguda
  A incapacidade súbita de urinar é uma emergência médica que pode necessitar de cateterização temporária, com colocação de uma catéter especial, chamado algália, e geralmente indica a necessidade de cirurgia para evitar recidiva desta situação.
   
• Infeções Urinárias Recorrentes
  Episódios frequentes de infeções do aparelho urinário (da bexiga, da próstata) devido ao esvaziamento incompleto da bexiga podem justificar a cirurgia.
   
• Cálculos na Bexiga
  A formação de pedras (cálculos) na bexiga por causa da urina residual (por sua vez causada pela HBP) pode provocar dor, infeções e hemorragia, necessitando de intervenção cirúrgica.
   
• Lesões na Bexiga ou Rins
  A obstrução crónica ao fluxo urinário pode levar a alterações na função da bexiga e lesão dos rins, podendo mesmo causar insuficiência renal. Exames como os estudos urodinâmicos, algumas análises sanguíneas e as ecografias ajudam a avaliar esses danos, e a cirurgia pode ser indicada para prevenir deterioração adicional.

2. Sintomas Urinários Severos e Persistentes

Quando os sintomas urinários são marcados, classificados como moderados a graves (podendo ser avaliados de forma objectiva com a Escala Internacional de Sintomas Prostáticos (IPSS) - uma pontuação IPSS superior a 19 significa que os sintomas são graves) e afetam significativamente a qualidade de vida, a cirurgia pode ser necessária.

Sintomas como necessidade urgente de urinar, dificuldade para iniciar a micção, fluxo urinário fraco e interrupções frequentes do sono para urinar, com elevado número de micções durante a noite, são considerados graves.

3. Falha do Tratamento Medicamentoso

• Ineficácia dos medicamentos
  Quando os tratamentos com medicamentos como os alfabloqueantes, inibidores da 5-alfa-redutase ou os tratamendts de associação não proporcionam alívio adequado dos sintomas, a cirurgia pode ser a próxima etapa lógica.
   
• Efeitos secundários não toleráveis
  Alguns pacientes podem não tolerar os efeitos secundários dos medicamentos, como tonturas, fadiga e disfunção sexual, tornando a cirurgia uma alternativa viável.

Considerações para a decisão cirúrgica

Para se avaliar correctamente a necessidade, a indicação correcta, o tipo de intervenção mais adequada, a situação do doente para se avaliar se tem condições para ser operado, entre outras, devem ser efectuadas as seguintes avaliações e dados os seguintes passos:

Momento Apropriado para a Cirurgia

Determinar o momento apropriado para a cirurgia envolve uma análise cuidadosa da progressão dos sintomas, a resposta ao tratamento atual e a presença de complicações. 
Aqui estão algumas normas gerais para esta avaliação:

1. Progressão dos sintomas
   Se os sintomas piorarem ao longo do tempo, apesar do tratamento, e começarem a interferir significativamente na vida diária, na qualidade de vida e no bem estar, está-se provavelmente na altura de considerar a cirurgia.
    
2. Aparecimento de complicações
   Qualquer sinal de complicação grave, como as acima descritas - infecções recorrentes, retenção urinária aguda ou lesão dos rins, deve acelerar a decisão de operar.
    
3. Falha dos tratamentos convencionais
   Quando os medicamentos e outras terapias não cirúrgicas deixam de ser eficazes ou causam efeitos secndários não toleráveis, a cirurgia torna-se uma opção mais adequada e geralmente necessária.

Conclusão

A decisão de avançar para a cirurgia em casos de hiperplasia benigna da próstata deve ser baseada numa avaliação completa e cuidadosa dos sintomas, das complicações associadas e da resposta ao tratamento medicamentoso. 

Consultar um urologista experiente é crucial para garantir que todas as opções são consideradas e que o paciente recebe a melhor orientação possível para melhorar a sua qualidade de vida. 

A cirurgia pode ser uma solução eficaz e definitiva para muitos homens, proporcionando alívio significativo dos sintomas e prevenindo complicações graves a longo prazo.

Autor: José Santos Dias | Jaba Recordati